Sobre

Artur Gomes

Venho de uma família numerosa com recursos moderados e cresci junto dos animais. Quando tinha 7 ou 8 anos já andava de volta das vacas, dos burros e das ovelhas. Com essa idade, ia levar o jantar ao pastor, com a noite cerrada, a 3km daqui. Na altura, ainda andavam por aí muitos lobos, mas eu nunca tive medo de andar sozinho à noite.

Os meus pais tinham vacas e lavravam com elas. Também sempre tivemos burros, que ajudavam a lavrar as hortas. Não havia tratores e todos os trabalhos eram feitos com o recurso aos animais e aos meios humanos.

Nos anos 60/70, o burro era o melhor meio de transporte que tínhamos por aqui. Era assim que se levavam os sacos de trigo para moer nos moinhos que existiam junto aos rios e ribeiras. E as donas de casa usavam-no para levar a merenda aos segadores que estavam a trabalhar no campo.
“...voltei para a aldeia e passei a dedicar-me aos animais e à agricultura. É uma maneira de passar o tempo a fazer aquilo de que gosto.”
Aos 16 anos, comecei a fazer contrabando de café para Espanha para ganhar dinheiro para a família. Depois fui para a tropa. Estive em Portugal e em Angola. Quando acabei o serviço, vim para casa e pouco depois fui dois anos para França. Mas as condições não eram boas e acabei por regressar à terra de origem. Ironia do destino, ingressei na Guarda Fiscal onde estive 30 anos.

Casei, tive uma filha e dois netos. Estão todos em Bragança e não acredito que venham para cá.

Quando me reformei, voltei para a aldeia e passei a dedicar-me aos animais e à agricultura. É uma maneira de passar o tempo a fazer aquilo de que gosto. Não dá grande rendimento, mas dá para equilibrar as finanças ao final do mês.

Agora tenho 2 burras e 12 ovelhas. Prefiro fêmeas porque os burros machos são um pouco mais agressivos e difíceis de domesticar. Ainda assim, os burros são mais pacíficos que os cavalos e dão-se melhor com as ovelhas.

O Burro de Miranda lá se vai aguentando nestas aldeias que estão a ficar desertificadas. Os jovens e as pessoas em vida ativa são cada vez menos. Nós, os reformados, é que vamos aguentando esta agricultura de subsistência. Vejo o futuro cada vez menos esperançoso. Há pouco quem queira trabalhar nesta vida. E a verdade é que o preço da carne se mantém o mesmo para o criador há vários anos. Mas as farinhas, as máquinas, o gasóleo e todo o material que precisamos tem vindo a aumentar muito de preço.

Apesar de ter estado fora algumas vezes, é como se nunca tivesse deixado de resistir na aldeia. Não gosto de grandes cidades. Gosto da natureza e de estar em contacto com ela. Nos tempos livres dedico-me à caça e à pesca.